domingo, 26 de agosto de 2012

Tudo no lugar (ou nem tanto)

Quando eu era criança, as pessoas gostavam de perguntar o que eu seria quando crescesse. Na época, eu não sabia o que era faculdade ou vestibular e o ENEM ainda nem existia, mas eu respondia com toda a convicção o que eu queria ser. Conforme eu fui crescendo, a profissão dos sonhos mudou, mas a certeza que foi transferida continuou a mesma. Então, eu fui crescendo e percebi que alguma coisa só podia estar muito errada, achava que os adultos esqueceram de me falar alguma coisa, nunca deram a entender o quando seria difícil alcançar meus objetivos e eu aprendi que a realidade não tem nada de tão cor de rosa. Na verdade, a realidade me parece um quadro preto e branco, as tintas estão todas em minhas mãos esperando que minha força, vontade e determinação escolham as cores para pintar o tal quadro.
Então, novamente eu parei pra pensar, com um sobrinho de 5 anos de idade, eu fico imaginando se eu falaria pra ele o quanto tudo que a gente mais quer é complicado de conseguir, que sonhos não são simples e que nada vai simplesmente acontecer, eu não gostaria de enterrar os sonhos de uma criança, acabar com sua inspiração e vontade de sonhar mesmo, de desenvolver a própria criatividade. Foi aí que eu percebi que ninguém havia esquecido de me contar nada, numa vida que dura anos, tudo acontece no tempo certo e aprendemos o que temos de aprender no devido momento, pois são os aprendizados que nos preparam para a vida, ninguém quis estragar meus sonhos enquanto eu era criança e graças a isso eu continuei sonhando e agora sei o que isso significa, sei que o segredo está em transformar os sonhos em metas e lutar pelo que eu quero ter ou quero que aconteça. Talvez, isso tudo seja muito clichê, muito óbvio, mas a vida já não tem mistério o suficiente? Não sabemos o que vai acontecer quando dobrarmos a esquina, muito mesmo o que acontece amanhã, então eu acho que precisamos de uma ou outra coisa óbvia para sabermos por onde ir, para pintar a realidade.
Talvez chegue um dia em que não estaremos fazendo o que sonhamos, nem saber se aquilo está certo, se tem alguma coisa realmente no lugar, talvez se sentir velho e pensar que não foi aquilo que um dia imaginou, talvez tenhamos medo do futuro, do desconhecido que nos aguarda, uma coisa cheia de surpresas com certeza, mas que ainda assim depende muito de nós, é preciso coragem para fazer escolhas e eu gosto de acreditar que nunca vai ser tarde demais para tentar algo novo, até porque desconhecido por desconhecido, não dá para conviver com a promessa de um futuro que nos deixa tristes, não é melhor arriscar e pelo menos saber que tentou? Também é bom saber que sempre existirá alguém lá por você, se você estiver lá por alguém... Pois somos todos pessoas vivendo tudo isso que nos assusta e nos fascina, histórias diferentes, problemas diferentes, mas em muitos momentos passamos pelas mesmas dúvidas e chateações, em algum lugar do mundo tem alguém vivendo os mesmos problemas que eu, a mesma pergunta interior. Somos todos pessoas procurando construir nossa própria realidade colorida.
Chega uma hora que nós decidimos se queremos falar ou fingir que esquecemos. Talvez quando o Gabriel tiver a minha idade, ele também pense que alguém deveria ficar responsável por contar para as crianças o quanto as coisas são complicadas, difíceis e duras, mas eu ainda vou ter a certeza que está tudo na lugar, acho que todos podem chegar a essa certeza. Ter o peixe na mão não ensina ninguém a pescar, saber que uma coisa é difícil não a torna mais fácil. Então, eu continuo defendendo a ideia de que aprendemos cada coisa a seu tempo e que, se temos que aprender por conta própria, pois só assim poderemos caminhar com nossos próprios pés, conquistar a tal da independência, saber viver, realizar e conquistar mesmo... Afinal de contas, não é por isso que passamos por toda essa coisa assustadora de crescer?

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