domingo, 25 de novembro de 2012

Ei, seu presidente!

Ei, seu presidente
o senhor tá vendo essa gente?
aquele povo que te elegeu
o senhor lembra o que prometeu?
tijolo pra casa, comida barata
e acima de tudo um lugar pra morar
mas veja só, eles ainda estão lá!
Debaixo da ponte, vivendo aos montes
implorando por comida para não perder a vida

Ei, seu presidente, tá sendo bem tratado?
comida na geladeira, gasolina no carro
e se tiver frio liga o aquecedor
se não fosse trágico, seria até engraçado
que o jornal que o senhor leu e depois jogou
é aquilo que eles usam como cobertor

Ei, seu presidente, lembra de onde veio
ou esqueceu suas raízes, seu povão?
Saiba que aquelas pessoas nem sabem pra onde vão
não sabem quando ou se vão comer
eles não sabem nem se vão sobreviver

E enquanto o senhor faz planos pra festas
viver um dia por vez, pra eles é só o que interessa
eles confiaram em você, acreditaram em suas promessas
e o que ganharam em troca?
indiferença e alguns ladrões pra tratá-los como idiotas

Seu presidente, seu saldo no banco como tá?
você gosta daquele valor, satisfeito com os zeros que vê?
sabe que aquela gente implora a Deus por favor
"uma moeda para o pão, para o meu filho não morrer"
e enquanto tua turma tem dinheiro no bolso
teu povo nem tem roupa pra vestir.

Por que o senhor não larga o avião
e usa o dinheiro para o povo ter onde morar
eles não querem um iate, mas que tal um pouco de dignidade?
se não quer dar o peixe, então ensina a pescar
dá saúde, emprego, educação
dá futuro, esperança, uma razão
para de fingir que não é contigo
tira as mãos dos teus ouvidos e escuta os gritos!
O povo do teu país tá chorando
o senhor não vê que eles estão morrendo?
acabou a perspectiva, estão padecendo

Ei, seu presidente, tá vendo esse povo
que te colocou aí pra trabalhar?
e só estão vendo uma minoria enricar
mas os pobres é que são a maioria
alguma coisa tem que acontecer
alguma coisa tem que ser feita
escuta, presidente! Acorda, presidente!
tá ouvindo o clamor da tua gente?




(Original de Abril/2011)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Coisas que eu escrevo #2

Quando eu tinha oito anos de idade, fui ao primeiro funeral que eu lembro. Minha mãe perdeu uma batalha contra o câncer que já se arrastava por quase dois anos.
Eu não lembro muitas coisas daquele dia. Lembro de não ter olhado dentro do caixão, atendendo ao último pedido da minha mãe. Eu estava com raiva do meu pai porque não me deixou usar o vestido rosa que eu havia ganhado no último aniversário, em algum momento eu apenas deixei de tentar entender e apenas aceitei que teria de usar preto.
Todo o resto continua na minha mente, mas apenas como um borrão, as pessoas, os barulhos, a chuvinha fina que começou perto do final, como lágrimas que caíam do céu para se misturar às lágrimas dos que estavam presentes.
Mas entre tudo, o que eu mais me recordo é do Rafa segurando minha mão, meu melhor amigo de sempre que estava lá do meu lado, mais tarde eu descobriria que a mãe dele insistira para que ele não fosse. Só que ele foi e ficou ao meu lado sem dizer uma palavra, sem invadir meu espaço, mas se eu precisasse eu podia apertar a mãe dele. E horas depois, quando tudo havia terminado e eu finalmente consegui chorar, ele ainda estava por perto pra me abraçar, em silêncio, apenas me bastava saber o quanto ele estava lá por mim.