terça-feira, 22 de outubro de 2013

O garoto

Ninguém sabia o que se passava pela cabeça dele, nem a mãe que fazia o seu leite todas as noites antes de dormir, nem o pai que abraçava todo final de tarde depois do trabalho. E enquanto o pai saía para trabalhar e a mãe se ocupava na cozinha, o garotinho corria pela casa em busca de uma nova aventura e ninguém imaginava o que se passava em sua mente, sem saber que enquanto ele corria, estava livre em seu próprio mundo, cercado pela magia de seus seis anos de idade.
No domingo, a rotina muda, o domingo é o dia preferido do menino, a mãe faz o almoço mais gostoso, o pai lê jornal sentado na cadeira da sala, as tias vem visitar com doces e beijos estalados, e no meio de toda aquela doce rotina de um domingo em família, cada um deles dispensa um pouco de carinho ao garoto, seja afagando seus cabelos negros, seja com beijinhos na testa.
O coro de "como ele cresceu" é um sinal, o pai levanta o jornal para que fique como uma barreira entre ele e o que as mulheres vão conversar a partir daquele momento, a mãe sorri se aproximando das irmãs e cunhadas, enquanto o garoto sai despercebido sabendo que a partir daquele momento, ele vai ser o tema discutido. Como ele é distraído, como ele está sempre inquieto, como ele parece sempre perdido no meio da lua, como seus olhos estão sempre olhando para lugar nenhum, é o que falam quase sempre enquanto o garoto foge dali sorrindo, apenas o pai nota sua ausência e dá um rápido sorriso já sabendo para onde o filho vai.
Na sala, a família volta a conversar sobre o que se passa na cabeça do garotinho, enquanto não muito longe dali, ele pega uma velha toalha e amarra no pescoço, seus olhos distraídos focalizam o horizonte cheio de surpresas que o aguardam e o menino voa em direção ao sol poente. Não há paredes, não há limites, apenas um super heróis e sua capa.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Menina no espelho

Mentiras, verdades, lembranças que vejo
memórias e lágrimas que se cruzam enfim
dúvidas incertas da menina no espelho
medos que me fecham em mim

e eu lembro de momentos em que fui mais feliz
ou talvez não tenha sido mesmo assim
pra onde olho, o que faço, o que o coração diz
que eu estava sonhando e o sonho chegou ao fim

eu te assisto chorar se encolhendo de medo
do que a vida reserva e do futuro em segredo
eu não consigo olhar para teus olhos vermelhos
porque a criança assustada é meu reflexo no espelho

não chora menina que o dia já vai amanhecer
o sol vai secar as lágrimas que insistem em descer
deixa os demônios fugirem madrugada adentro
você vai ficar melhor, eu prometo

teu sofrimento é nosso e eu levo comigo
teu coração perturbado é meu melhor amigo
acalmo a tempestade e te faço dormir
guardo a criança que fui dentro de mim

te olhar nos olhos me dá forças pra seguir
seguir em frente e nos proteger
te orgulhar de mim, esquecer o que restou
nós somos o mesmo, eu te tenho, eu te sou

teus olhos ingênuos me encaram, vermelhos
a criança que eu era me assiste do espelho
mas deixo os demônios fugirem madrugada adentro
eu vou ficar melhor, eu prometo