Não consigo escrever sobre algo tão chocante particularmente sem me sentir triste e assutada, trsite pelas pessoas que perderam alguém e por aqueles que perderam seus sonhos e seu futuro. Sinto-me também assustada porque a minha primeira reação foi indiferença. Eu fiquei triste, não me entenda mal, mas a primeira vez que me falaram ou vi na televisão eu fugi mudando de assunto ou de canal. Depois é que foi diferente, uma revolta sufocante, como se uma mão estivesse segurando meu coração, uma vontade dolorosa de fazer alguma coisa mesmo sabendo que nada poderia ser feito, mesmo sabendo que nenhum palavra ou ação, absolutamente nada senão Deus poderia trazer alguma espécie de conforto num momento onde e vida e morte se cruzam de tal maneira.
Triste para mim é ver os programas de televisão que ganharam mais uma semana de audiência, saturando cada detalhe dessa tragédia como um urubu que suga cada última grama de carne de uma carniça. Triste é ver que as pessoas que não estão vivendo diretamente tudo isso se recuperam tão rápido, que dois segundos após o minuto de silêncio estejam novamente falando em viagens e festas, não posso culpa-los (quem pode?), a vida segue e ficar de luto não trará ninguém de volta, o respeito que podemos demonstrar é aquele que está dentro do nosso próprio coração, as lágrimas mais significativas são aquelas que caem quando ninguém está vendo, aquelas que nem ao menos precisam transbordar mas existem no intimo da alma, aquelas que não precisam ser assistidas ou contadas para que se façam verdadeiras.
Não me atrevo a falar do ser (humano?) que provocou tudo isso. Não consigo falar, não só porque as palavras me fogem à mente mas também porque a revolta só se manifesta em uma tensão superficial que não pode ser explicada ou traduzida, mas acredito que cada um que viu ou ouviu falar do que houve tirou suas próprias conclusões ( se importar é importante ) a respeito desse doente, mas não um doente mental como estão falando, mas um doente de coração e de alma.
É assustador ver o quanto as tragédias precisam crescer em letalidade para que possam nos impressionar. É assustador não saber onde vamos parar, o que chega a ser um eufemismo já que não sabemos realmente aonde estamos indo. Provavelmente daqui a dois minutos eu estarei rindo novamente, não me julgue por ser realista, sinto muito se preferem alguém que minta e vos conte sobre as lágrimas que vai derramar até que consiga pegar no sono novamente. O riso nunca morre de verdade e, correndo o risco de parecer cruel, por mais triste que estejamos não somos nós que temos os verdadeiros motivos para chorar.
O que eu espero é que sigamos com a vida mas não esqueçamos daqueles que a perderam ou daquelas que nunca mais serão as mesmas, não esqueçamos que em algum lugar tem pessoas que não precisam fazer esforço para derramar lágrimas, pessoas sofrendo de forma que nenhum ser humano pode definir, futuros sendo enterrado. Talvez se fizermos um esforço para lembrar o que aconteceu no ontem menos o amanhã soará pequeno. Desculpe pela frase batida, mas "se ser moderno é ser omisso eu prefiro ser clichê".
Aos "posers", minha vergonha. Aos sensíveis, minhas palavras. Às familias, o meu respeito. Às crianças, o meu silêncio.
Respeito e silêncio num momento em que nada útil pode ser dito.